Afinal, a semana de trabalho vai ficar mais curta ou mais longa?

“O propósito da vida não é apenas trabalhar”, disse o bilionário Bill Gates em entrevista ao podcast americano What Now, no ano passado. O fundador da Microsoft defendeu que, com o avanço da inteligência artificial, seria possível delegar processos para as máquinas e liberar os profissionais para uma semana de trabalho de apenas três dias.

O CEO do JP Morgan também já havia defendido essa ideia. “Seus filhos vão viver até os 100 anos e não vão ter câncer devido à tecnologia. E eles provavelmente vão trabalhar três dias e meio na semana”, disse Jamie Dimon em uma entrevista.

O movimento por uma semana de trabalho mais curta não é exatamente novo e já trouxe resultados positivos em empresas do Reino Unido, Estados Unidos e Portugal, por exemplo. Entre eles, aumentos no lucro, produtividade e bem-estar dos funcionários.

Semana de trabalho de 4 dias no Brasil
Um projeto-piloto conduzido no Brasil acaba de implementar a semana de quatro dias em 19 empresas no país. As conclusões foram semelhantes às dos pilotos em outros países: os profissionais relataram mais eficiência, criatividade, inovação e satisfação com o trabalho, além de redução na frustração e na ansiedade. “O brasileiro trabalha muitas horas, mas produz pouco”, diz Gabriela Brasil, head de comunidade da 4 Day Week Global, que lidera os pilotos mundialmente, e adepta da semana de quatro dias desde 2018.

Quase 100% dos participantes gostariam de continuar com a semana mais curta e mais de 80% da alta liderança avaliou a experiência positivamente. “Isso está relacionado com melhoria em processos, planejamento do dia, momentos de hiperfoco do time, uso da tecnologia e redução das reuniões”, diz Renata Rivetti, fundadora e CEO da Reconnect Happiness at Work, consultoria que faz parte do projeto no Brasil.

Todas as empresas que participaram da experiência vão manter a semana de quatro dias, de forma definitiva ou ampliando o piloto. Apenas uma companhia de Porto Alegre (RS) deixou o projeto, devido às enchentes que acometeram o estado.

Enquanto o piloto conduzido pela 4 Day Week Global e a Reconnect Happiness at Work, com parceria do Boston College e da FGV, já está com inscrições abertas para a segunda experiência em solo brasileiro, grandes empresas e outros países têm ido na contramão do movimento por mais flexibilidade no mercado de trabalho.

Semana de 6 dias?
Em abril, um jornal sul-coreano informou que a Samsung iria ampliar a carga horária dos seus executivos. Líderes de todas as unidades da empresa agora trabalham seis dias por semana, podendo escolher entre sábado ou domingo.

A Coreia do Sul, e os países asiáticos de modo geral, são conhecidos pela cultura de trabalho intensa. Mas a Grécia também entrou na onda em julho deste ano e introduziu a semana de trabalho de seis dias para alguns setores, numa tentativa de impulsionar o crescimento econômico do país. “O movimento de uma semana de seis dias é insustentável a longo prazo”, avalia Renata, citando que funcionários da Samsung na Coreia do Sul entraram em greve recentemente.

A CEO da Reconnect defende que empresas e profissionais aprendam a trabalhar melhor: com menos distrações e reuniões improdutivas e mais eficiência e uso da tecnologia a favor dos processos. “A semana de quatro dias não é sobre tirar a sexta, é um redesenho do trabalho.”

Flexibilidade é benefício nº 1
A flexibilidade é um benefício inegociável para os profissionais, segundo estudo da empresa de tecnologia corporativa Owl Labs em parceria com a consultoria Global Workplace Analytics. É até mais importante do que o plano de saúde e o vale-alimentação, mostra uma pesquisa da WeWork. “Se antes a geração X buscava um bom salário, benefícios e bônus, hoje a gente percebe que tanto os millennials quanto a geração Z colocam a flexibilidade em primeiro lugar”, diz Renata.

Empresas que não abrem espaço para ouvir e acompanhar as necessidades dos profissionais podem ficar para trás na disputa por talentos, sem contar a perda de produtividade com o baixo engajamento. “O primeiro grande obstáculo é a mentalidade. Muitas vezes, vemos uma liderança que acredita que ser workaholic é importante para gerar resultados”, diz Renata. O segundo ponto é a disponibilidade para mudar a forma de trabalhar.

Novo “CLT Premium”
A semana de quatro dias deu visibilidade para as empresas participantes, que fortaleceram sua marca empregadora. “Ouvimos relatos dos líderes dizendo que não poderiam competir com o salário de uma grande multinacional, mas que desde quando implementaram o projeto, o turnover foi zero.”

A Vockan, empresa brasileira de sistemas de gestão empresarial, é exemplo disso. Adotou a semana de quatro dias de trabalho em novembro de 2022 e entrou para o projeto-piloto este ano. O CEO, Fabricio Oliveira, implantou a medida depois de acompanhar a tendência fora do Brasil e percebeu um impacto na produtividade e também na atratividade da sua marca empregadora. Hoje, segundo ele, o turnover voluntário, a taxa de rotatividade de funcionários, é zero.

A flexibilidade mostrou ser uma estratégia para empresas se diferenciarem no mercado e atraírem talentos em meio à trend “CLT Premium”, que expõe os benefícios recebidos – e valorizados – pelos jovens em grandes companhias, como massagem no escritório, vale-refeição “maior que um salário mínimo”, academia de graça, entre outros. “Quando falamos sobre o que as pessoas valorizam no mundo do trabalho, certamente uma semana de quatro dias hoje é algo de grande valor e até inestimável”, afirma Renata Rivetti.

De fato, 16,7% dos participantes do piloto no Brasil afirmaram que não mudariam de emprego, independentemente do valor oferecido, para voltar a trabalhar cinco dias na semana. E 40,4% só iriam considerar um dia a mais de trabalho com um reajuste salarial de mais de 50%.

As empresas participantes do piloto atuaram no modelo 100-80-100: mantiveram 100% do salário, com 80% da carga horária e 100% da produtividade. Também tiveram a liberdade de adaptar o formato conforme as necessidades. “Um escritório de contabilidade que está no piloto tem uma semana de fechamento do cliente, ou seja, eles não conseguem fazer a semana de 32 horas e tudo bem”, explica a CEO da Reconnect. “Essa flexibilidade é fundamental para que cada empresa se adeque, conforme o que funciona para ela, para sua cultura e seus valores.”

 

Fonte: https://forbes.com.br/carreira/2024/08/afinal-semana-de-trabalho-vai-ficar-mais-curta-ou-mais-longa/

 

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